Modalidade: Presencial, online e gravação (disponível por 7 dias)
A proposta de nosso curso é desvelar, pela perspectiva arquetípica de Carl Jung e Mircea Eliade, a paradoxal experiência do sagrado que impregna a vida e o pensamento de Friedrich Nietzsche.
Eliade, autor de "O mito do eterno retorno" e um dos maiores especialistas mundiais em história das religiões, designou como “camuflagem do sagrado” os processos de persistência mais ou menos mascarada do anseio religioso universal em plena modernidade secular. Apesar da crise das igrejas e das representações metafísicas tradicionais, o apelo do sagrado permaneceria determinante, segundo Eliade, de dimensões arquetípicas essenciais de uma época marcada pelo que Nietzsche diagnosticou como a “morte de Deus”.
Ora, o próprio Nietzsche se afigura como um caso particularmente dramático dessa paradoxal vitalidade do sentimento do sagrado para além da denúncia estridente, em suas obras, das mazelas da religião como um dispositivo de dominação do homem pelo homem, de repressão dos instintos e de ódio à vida.
Veremos como Jung, leitor apaixonado de "Assim falou Zaratustra", demonstrou a sensibilidade extraordinária de Nietzsche (ainda que imatura, vide a trágica insanidade que se abateria sobre o filósofo poucos anos depois desta obra) com relação aos símbolos e dinâmicas criativas emanadas pelo inconsciente coletivo. Não por acaso, a doutrina de Zaratustra retoma arquétipos ancestrais como o Velho Sábio e o Eterno Retorno.
Lou Salomé, a partir da íntima convivência pessoal e intelectual com Nietzsche, pôde discernir nele uma faceta de gênio religioso, lado a lado com a vocação de crítico radical da religião.
Um indício dessa dimensão do sagrado pouco reconhecida pela maioria dos leitores nietzschianos é a ênfase do filósofo alemão no ideal heroico. Isso fica patente no apelo do protagonista homônimo do Zaratustra: “Mas por meu amor e minha esperança eu te suplico: não lances fora o herói que há em tua alma! Mantém sagrada a tua mais alta esperança!”
Em outra passagem famosa de sua obra-prima, Nietzsche faz o profeta zaratustriano do Super-homem declarar que só acreditaria em um deus que soubesse dançar – outro sinal de que um conceito raso de “ateísmo” é pouco elucidativo quanto à especificidade do perfil religioso singular que pode ajudar a explicar o protagonismo, legítimo e distorcido, grandioso e conflitivo, do nome de Nietzsche como um dos fundamentos da cultura contemporânea.
TEMAS DAS AULAS
1. Camuflagem do Sagrado e mito do Eterno Retorno: a hermenêutica simbólica de Jung e Eliade
2. Nietzsche: Dionísio contra o Crucificado
3. Arquétipos de Assim falou Zaratustra
4. O ideal heroico em Nietzsche como exemplo e fracasso da individuação