Modalidade: Presencial, online e gravação (disponível por 7 dias)
A proposta de nosso curso é reconstituir, em um diálogo com a aspectos da psicologia de Carl Gustav Jung, o confronto de Friedrich Nietzsche com o cristianismo. O foco específico será a releitura de "O Anticristo" (1888), obra em que Nietzsche radicaliza sua crítica da religião cristã, que para ele é uma máquina de guerra contra os “instintos de conservação da vida forte” e contra a mensagem original de Jesus (“Na verdade, o único cristão morreu na cruz”).
Segundo Jung, todo leitor da filosofia nietzschiana se depara, nela, com um tênue limiar entre genialidade e loucura, em virtude da intimidade intuitiva e desamparada de Nietzsche em relação às energias do inconsciente coletivo. É o que veremos no exame de "O Anticristo". Trata-se de uma obra visionária no próprio gesto de revalorizar, já no seu título, uma figura arquetípica que representa contrapartida sadia e necessária, segundo Jung, a um deus excessivamente unilateral em sua “santidade”, transformada em dispositivo hipócrita e neurótico que nos falsifica, reprime e afasta da verdadeira “completude”, em nossas luzes e sombras, em nosso céu e terra.
Sintomas sociais contemporâneos como a intolerância religiosa, a polarização político-ideológica, o caos ecológico, atestam a atualidade da denúncia nietzschiana da moral judaico-cristã (e de seus avatares na modernidade laica) como fé cega, ódio maquiado de amor, cisão entre corpo e alma, sufocamento da natureza interna e externa.
Mas, como também veremos, Jung aponta no próprio Nietzsche graves dificuldades psíquicas refletidas em seu discurso filosófico. Elas levariam o pensador, poucos meses após a conclusão de "O Anticristo", ao colapso psicótico do qual jamais se recuperou, além de influenciarem a própria interpretação nazista equivocada que seria dada a esta filosofia pelo nazifascismo, até os dias de hoje.