COMO COMBATER A VIOLÊNCIA DA EXISTÊNCIA?
– A POLÊMICA SARTRE X CAMUS
Live com Prof. Caio Liudvik
Nossa palestra vai tratar de uma das amizades intelectuais mais marcantes do século XX, e suas lições para as buscas contemporâneas de emancipação e paz. Jean-Paul Sartre e Albert Camus foram reconhecidos como protagonistas do movimento existencialista. Ambos foram premiados com o Nobel de Literatura (embora Sartre o tenha recusado), tamanha a potência de suas obras como expressão da angústia e perplexidade que acometem uma consciência lúcida perante a dimensão intrínseca de violência, sofrimentos e injustiças, do existir, despojada de quaisquer justificativas. Miséria, guerras, pandemia (naquele caso, a gripe espanhola), os totalitarismos e o Holocausto trouxeram à tona com novo vigor nosso desamparo ante a voracidade cega do Mal.
Também a dramática ruptura entre Camus e Sartre, em 1952, teve a violência como ponto central, no cenário de polarização ideológica da Guerra Fria. Para Camus, por mais válida que seja a “revolta”– termo central em sua filosofia, ao lado do absurdo – os fins (como abolir a dominação capitalista ou colonialista) não justificam meios como o assassinato enquanto política de Estado ou protesto terrorista.
Contrária de início ao suicídio, que ela interpreta como rendição violenta ao absurdo, na qual algoz e vítima são um só, a ideia de revolta, em Camus, desafia também a violência contra o Outro: expressão de amor à vida e descoberta da solidariedade universal, a revolta é em si sublevação contra os fatores e comparsas da violência que rege a nossa condição de condenados metafísicos à pena de morte, e uma espécie de via de cura da consciência ante o que ele metaforiza, num de seus principais romances, como “peste”.
Já Sartre, tomando partido da causa revolucionária, considera que a brutalidade concreta da história reduz um pacifismo como o de Camus a nada mais que uma utopia ingênua ou, pior, cúmplice da própria violência (a do status quo) que ele aparentemente quer erradicar.
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Atividade acessível – Tradução em Libras
Caio Liudvik - Pós-doutorando em Psicologia pela USP, em pesquisa sobre a solidão em Nietzsche, é Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Filosofia na mesma instituição. A relação entre Sartre e Camus é tema de seu doutorado Evangelhos da revolta. Autor de "Sartre e o pensamento mítico" (Loyola), traduziu, entre outros livros, a peça "As moscas", de Sartre, "Camus e Sartre – O polêmico fim de uma amizade no pós-guerra", de Ronald Aronson (Nova Fronteira) e "Simone de Beauvoir – A biografia", de Huguette Bouchardeau (Nova Fronteira).