Ao longo do texto, as reflexões de Carolyn Yoder são costuradas pelo relato de casos reais de pessoas que sobreviveram aos mais variados traumas: guerra civil, terrorismo, desastres naturais, miséria extrema e infortúnios pessoais.

O trauma é uma reação fisiológica a choques profundos sofridos ao longo de nossa existência, abalando as referências de mundo e despedaçando os significados da vida. A abordagem da autora, a partir de uma perspectiva biopsicológica, explica de maneira didática a complexa dinâmica emocional, mental e espiritual envolvida na sofisticada interação entre a culturalidade e a neurobiologia humanas, e as diversas formas pelas quais o trauma pode se manifestar. Traumas mal resolvidos tendem a perpetuar traumas e dores justificando, muitas das vezes, mais violência. Traumas bem resolvidos podem proporcionar alteridade, empatia e resiliência.

Carolyn Yoder elucida os porquês dos ciclos viciosos criados a partir de traumas não curados, e nos convida a perceber o trauma como uma oportunidade de transformação. “A jornada de cura do trauma”, como ela mesma apresenta, passa pelo devido vivenciar do pesar e do luto, e não de sua supressão. Trata-se do devido reconhecimento da nossa vulnerabilidade humana que precisa ser honrada para seguirmos adiante, de maneira construtiva e significativa.

Sob uma perspectiva política, do âmbito individual às mais amplas ideias de coletividade, a concretização da justiça e da segurança depende desse cuidado e dessa cura, para que o sentido da vida seja regenerado e laços sociais sejam restaurados.